Sobre

Ainda tenho aquele sorriso envergonhado que é embalado por uma tirada rápida que nem sempre é compreendida, acompanhada de um complemento explicativo. Dou risada de minhas próprias piadas.
Mas não tem sido fácil fazê-las. Relaxar, criar, lembrar e empurrar os músculos da face pra cima, transformando os lábios naquele mesmo riso inibido que se solta numa gargalhada.
Incomoda estar em uma vida que não é a sua. Condenar dias, meses e anos à uma existência sem exuberância.
A padaria aqui da esquina contratou um padeiro de chifres e rabo pontudo, e é o pão que ele amassa que venho comendo. Mastigo olhando o céu. Como se das nuvens chovesse uma esperança que me jogasse de volta ao caminho, a cada placa indicando menos dias, a cada pôr-do-Sol nostálgico, o peito se estufa, e uma determinação abastecida de amor me mantém contumaz.
Os pais geralmente nos dão esse conselho. Uns seguem, outros não.
Os acontecimentos da vida somados às escolhas que fiz diante das situações com as quais me deparei, me trouxeram hoje para este apartamento no subsolo de uma casa antiga, na região oeste de uma cidade fria chamada Toronto.

“Estude meu filho” – mamãe sempre me alertou. Ela sabia o que estava dizendo. Até fui bem na escola. Mas faltou o esforço a mais, que diferencia os vencedores dos que lamentam. E agora é preciso correr atrás do atraso, de uma forma ou de outra. O que os pais muitas vezes não sabem é que o estudo é a primeira chance do ser humano se dedicar, de transformar o esforço numa recompensa. Alguns não tem a paciência e a firmeza suficientes.
Muitas serão as topadas no caminho, em que doarmo-nos por um sonho é a chance de encontrar a verdadeira felicidade.
Sem estudar você não vai passar no teste, sem trabalhar não vai comprar aquele carro, sem ensaiar não vai tocar naquela banda, sem treinar não vai entrar no time, sem amar não se conhece o amor… os maiores sonhos não se auto-realizam.
Uma das batalhas mais árduas que travei até hoje, vem chegando ao seu final. Meu maior desejo é estar de volta a minha terra. Com as pessoas que me conhecem, que conheceram, que vão conhecer.
O sacrifício de hoje será a vitória daqueles que enfrentam a dor, obstáculos, apuros, solidão, incertezas… superadas pela fé que determina.
Eu corro. Feliz, corro em direção ao vale encantado. O sorriso envergonhado espera mais uma nevasca para rebrotar no mesmo jardim, que se vê incompleto desde a colheita de 4 anos atrás.

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