Alguém lembra de um unicórnio chamado Fé?
Nós brigamos. Coisa que acontece com bons parceiros em toda longa jornada.
Ele cansou de galopar sem rumo. Afinal, que raio de vale encantado é este que nunca chega?!
Crina reluzente, olhar decidido. Era a Fé me deixando a pé.

No primeiro dia você caminha rápido. A cada ribanceira vislumbra no horizonte uma esperança nova.
Sem Fé, os dias são mais lentos. As noites mais longas. Os abismos mais profundos.
O estoque de otimismo transformara-se em ninho de aranhas.
– Será que depois de tanto viajar e lutar, eu hei de me entregar? – indagava-me a cada tropeço, ou dor incontida.

Sentado sob uma árvore, recostado sobre uma rocha, me ilumina um raio de Sol, estreito, cruzando todo o embaramado de galhos e folhas, ultrapassa planta, madeira, frutos, insetos e aterrisa no meu pé esquerdo.
– Que determinação! – reconheço entre tantos devaneios e pensamentos dispersos, dos quais não me recordaria minutos mais tarde.

Um telefone que toca. Um email novo na caixa de mensagens. Um sorriso recebido. O amigo que chama. A frase que toca. O filme que identifica. O livro que prende. O exame que dá negativo. E o teste que dá positivo.
A música com uma legenda abstrata que o velho canta e nem sabe. Água gelada, chocolate quente.
Cheiro de mar, de praia. Sonho real. Realidade virtual. Janela de ônibus, contando as faixas na estrada.
Estrada. Poeira no fim da estrada, e subindo… ora bolas… é o unicórnio!

Imponente, com o galopar mais decidido e bonito que jamais vira outrora. Estava mais uma vez completo.
Estranho, transformar a fé num unicórnio. Ou um sonho em vale encantado. Ainda mais deixá-los partir.
Abandoná-los. Ou ser abandonado.
Esperar sentado embaixo de uma árvore por um raio que iluminasse as idéias e trouxesse força nunca foi o plano, nem mesmo perder a fé por alguns dias, meses ou quilômetros; mas quem disse que é fácil se chegar ao tal vale encantado?

Quem disse que ele não está conosco? Desenhado no quadro negro de nossa imaginação, todas as vezes em que nos
sentimos predestinados, batalhadores, esperançosos… seres humanos movidos por fé. Fé nos sonhos mais felizes de cada um.